“Não é o clima que ameaça a vida no planeta (…) quem ameaça a vida no planeta tem nome e endereço”, afirma bióloga.

A frase foi dita por Lara Moutinho, Bióloga e Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pelo EICOS-UFRJ,  ex-superintendente de Educação Ambiental da Secretaria Estadual do Ambiente/RJ, em entrevista que concedeu ao Programa Salto para o Futuro da TV Escola, em 14 de maio de 2010.

Suas  colocações mantêm-se atuais e enfrentam temas como controle social, biodiversidade, criação de unidades de conservação, comunicação e educação.

Acompanhe um dos trechos da entrevista:

Salto – Você falou da questão do buraco da camada de ozônio, do aquecimento global, são questões que hoje são populares, são discutidas pela população de uma forma geral. Ao contrário do que eram nos anos 70, quando os primeiros relatos surgiram desse tipo de problemática. Qual o papel da mídia nesse processo? Há críticos que dizem que a mídia tende a ser muito alarmista no trato das questões ambientais. Como você analisa essa crítica: a mídia também avançou na forma de levar até a população informações sobre as grandes discussões ambientais?
Lara Moutinho –  A mídia tem um papel importante na difusão do conhecimento, porque leva a informação. O problema é que essa informação, às vezes, ideologicamente é posta de maneira perversa. Há pouco tempo, um jornal de grande circulação no país, ostentou na primeira página: ““clima ameaça a vida no planeta”. Não é o clima que ameaça a vida no planeta. O clima é um sintoma de que algo não vai bem. Mas quem ameaça a vida no planeta tem nome e endereço. Então, veja, a maneira como a mídia trabalha a informação pode ser distorcida para o bem e para o mal. Então, a mídia, os veículos de comunicação, têm um papel importante, mas as pessoas têm que ter uma visão crítica da informação que está chegando na casa dela.  Enfim, você pode falar de tudo. E é por conta, às vezes, desse alarmismo que as pessoas se tocam, acordam, ficam chocadas, indignadas. Mas isso, muitas vezes, não é o suficiente para fazer com que elas levantem da cadeira e façam alguma coisa. Na realidade é isso, não adianta você se indignar dentro de casa, e não partir para a mudança, ou colaborar. As saídas, na maior parte das vezes, não são individuais, como preconiza a educação ambiental antiga e tradicional, que manda fechar a torneira de água de casa, por conta da falta de água no planeta, da não separação do lixo etc. Isso são questões individuais. Mas veja, com relação à água é grave. Num país onde você tem mais bois que seres humanos, são duzentos e tantos milhões de cabeças de boi, e cento e tantos milhões de habitantes. Mais de 80% da água é usada na agropecuária, e depois na indústria, e depois no comércio. Para o consumo individual a quantidade é minúscula. Então, os programas de educação ambiental para salvar a água do Brasil voltados apenas para as pessoas, individualmente, falando em fechar a torneira, não vão resolver o problema. Porque a saída muitas vezes não é técnica e individual, é política e coletiva. Então, veja, a mídia foca nessas questões individuais, porque isto faz sucesso, vende mais revista. Eu canso de ver  essas revistas, magazines e tal, dando dicas, “ecodicas”. Isso é interessante, porque pode até fazer com que as pessoas reflitam um pouco  sobre a sua conduta do dia a dia, mas elas não vão ser suficientes para as transformações que são necessárias.

Para ler a entrevista na íntegra, consulte Programa Salto para o Futuro, entrevista de maio de 2010 ou  clique aqui .

MOUTINHO, Lara. Educar na Biodiversidade. (maio. 2010). Programa Salto para o Futuro. Disponível em:<http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto-acervo/interview;jsessionid=EAF20BDA3A1135EDA378400481E3CAF2?idInterview=8377>. Acesso em: 23 fev. 2017

 

 

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