As histórias em quadrinhos (HQs) estão presentes no dia a dia, nos materiais de apoio, nas campanhas de conscientização e até em métodos de seleção e avaliação do país, como concursos públicos e vestibulares (PIZARRO,2009, p. 105). Mostram-se como um instrumento valioso de comunicação e alternativa extremamente motivadora para o ambiente escolar (PIZARRO, 2009, p. 105). Compõem as narrativas por meio da sequência de vários quadros e espaços, formando uma história, razão pela qual também são tratadas como “linguagem quadrinizada” entre os estudiosos dos quadrinhos (PIZARRO, 2009, p. 25).
A partir de seu início de aparição em jornais, em pequenas tiras (FUNK; SANTOS, 2008), ganharam mais espaço e até revistas exclusivas. Passaram a ser utilizadas como produto para atingir as massas e transmitir mensagens para os mais diversos fins, inclusive governamentais e institucionais, como ocorre com gibis de campanhas para vacinação e combate à dengue(PIZZARRO,2009 p. 26) ou de comentários sobre novas leis ambientais, como as publicações do Ministério Público da Bahia “Novo Código Florestal” e “Gibi da Mata Atlântica” (vide quadro abaixo).
Como as pessoas não precisam estar vinculadas a um contexto estudantil, as histórias em quadrinhos (HQs) prestam-se à educação ambiental tanto formal – nas escolas – como informal. Como explica Giesta (2012), a forma de comunicação, transparente e objetiva, das histórias em quadrinho (HQs) favorece a educação ambiental informal, pois é através delas que as informações são transmitidas de forma coesa e podem contribuir para a sensibilização das pessoas. Têm caráter lúdico e estético, sem deixar de estimular a leitura crítica e a difusão de concepções, saberes e conceitos no campo das ciências ambientais.
Em sala de aula, as HQs podem ser confeccionadas pelos professores, de acordo com os interesses de seu planejamento e do conteúdo curricular que pretendem abordar (PIZARRO, 2009,p. 31), bem como pelos alunos. Vale também a utilização de histórias em quadrinhos já publicadas, como as de Mauricio de Souza (PIZARRO,2009 p. 27), a partir da década de 90 (Kamel, apud PIZZARO,2009 p.33) . O importante é que seu conteúdo gere discussões sobre a temática ambiental, atingindo, no mínimo, a sensibilização dos alunos.
Não se trata unicamente, como refere Kamel (apud PIZARRO, 2009, “da produção de materiais ‘politicamente corretos’, ou seja, materiais especialmente preparados para os propósitos educacionais, mas sobretudo o que já existe, o que está sendo lido, visto e comentado; buscando instigar o senso crítico do aluno, de forma que ele possa elaborar seus próprios critérios de análise e dessa forma possa ser cidadão no sentido de aprender a aprender, aprender a criticar, opinar e propor mudanças“.
Caruso, Carvalho e Silveira (2017) entendem a produção de quadrinhos como oportunidade de criação de material didático, com a participação dos alunos na construção do próprio conhecimento. Esse material valoriza as experiências e a bagagem cultural do próprio aluno, possibilita a interdisciplinaridade e o uso de recursos tecnológicos. Além de tudo, foge da simples memorização e pode permitir que o aluno aprenda através de suas próprias deduções e conclusões. Alertam, contudo, que “as tirinhas não devem ser óbvias ou conter explicações que não deixem espaço para que o aluno infira ou deduza alguma coisa a partir de seu contato com a tirinha“.
Outro recurso didático apto ao trabalho com questões ambientais em sala de aula, indicado por Linsingen (2007), Braga e Spadetti (2010) são os mangás (quadrinhos japoneses), diante de suas características de “popularidade entre os jovens, dinamismo na linguagem, facilidade de acesso ao material, variedade temática, ludicidade, cognitivismo, uso de discursos combinados entre texto e imagem e debates que relacionam ciência, tecnologia e sociedade”.
Desse modo, as histórias em quadrinhos (HQs) e os mangás podem ser utilizados como ferramentas pedagógicas na área da educação ambiental, auxiliando a prática docente com material que acompanha o interesse dos alunos (PIZZARRO, 2009, p. 17). Os eventuais erros conceituais das histórias podem ser utilizados para apresentar e discutir os conceitos cientificamente aceitos (PIZZARRO, 2009, p. 21), enquanto conteúdos não apropriados (BRAGA; SPADETTI (2010, p.2) para o contexto escolar podem ser afastados por triagem efetuada pelo professor.
Um exemplo de história em quadrinho pode ser visto na 1ª edição do Jornal Eco Teens de Barra do Choça. Para consultá-lo, <clique aqui> ou consulte na aba Edições Publicadas/Eco Teens/Barra do Choça/2014- 1ª edição.
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HQ sobre saneamento básico feita por aluno da Escola Municipal Fidelcina de Carvalho -Vitória da Conquista- 2016 |
Escola Municipal Fidelcina Carvalho preparou histórias em quadrinhos para o Eco Teens 2016- Vitória da Conquista |
Referências:
BRAGA, G.V.; SPADETTI, M.G. Os mangás como estratégia didática. Disponível em:<http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2011/anais/arquivos/RE_0149_0473_01.pdf>. Acesso em 22 abr. 2017.
CARUSO, Francisco;CARVALHO, Mirian de; SILVEIRA, Maria Cristina. Uma proposta de ensino e divulgação de ciências através dos quadrinhos. Disponível em:<http://cbpfindex.cbpf.br/publication_pdfs/cs00802.2006_12_08_10_29_32.pdf>. Acesso em 22 abr. 2017.
FUNK, Suzana; SANTOS, Ana Paula dos. A educação ambiental apoiada pelo design gráfico através das histórias em quadrinhos. 2008. Disponível em:<http://ensus2008.paginas.ufsc.br/files/2015/09/A-educa%C3%A7%C3%A3o-ambiental-infantil.pdf>. Acesso em 22 abr. 2017.
GIESTA, Nágila Caporlíngua. História em quadrinhos: recurso da educação ambiental formal e informal. In: RUSCHEINSKY, A. (org.) Educação Ambiental: abordagens múltiplas. 2 ed. Porto Alegre: Penso, 2012, p. 206-231.
LINSINGEN, Luana Von. Mangás e sua utilização pedagógica no ensino de Ciências sob a perspectiva CST. Ciência & Ensino, vol. 1, edição especial, nov 2007. Disponível em:<http://prc.ifsp.edu.br:8081/ojs/index.php/cienciaeensino/article/view/125/110>. Acesso em 22 ab. 2017.
LINSINGEN, Luana Von. Mangás e sua utilização pedagógica no ensino de Ciências sob a perspectiva CST. Resumo. Disponível em:<http://www.cienciamao.usp.br/tudo/exibir.php?midia=ard&cod=_mangasesuautilizacaopeda>. Acesso em 22 abr. 2017.
PIZZARRO, M. V. Histórias em Quadrinhos e o Ensino de Ciências nas séries iniciais: establecendo relações para o ensino de conteúdos curriculares procedimetais. Disponível em:<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/90960/pizarro_mv_me_bauru.pdf?sequence=1>. Acesso em 22 abr. 2017.