Ignaz Semmelweis: de médico a louco, por ensinar a lavar as mãos

Com o advento da pandemia do coronavírus,  a importância de lavar as mãos tem sido bastante divulgada.  No entanto, você sabia que essa prática de higiene já foi rejeitada por médicos e cientistas? E que o médico pioneiro em propor a lavagem das mãos antes dos partos foi internado e morreu em um manicômio?

O caso refere-se ao médico húngaro Ignaz Semmelweis. Na década de 1840, trabalhava no Hospital Geral de Viena (Áustria), que contava com dois setores de maternidade,  o primeiro, atendido por médicos e estudantes de medicina e o segundo, por parteiras. No primeiro setor, o número de mortes de mães associado à febre puerperal  era superior ao do segundo setor.

A situação intrigou a Ignaz Semmelweis, que passou a observar os fatos e testar hipóteses. Observou, por exemplo, que os médicos e estudantes de medicina participavam de atividades de anatomia, com dissecação de cadáveres, e depois se dirigiam para o Primeiro Setor, para a realização dos partos. Entre uma e outra atividade, não procediam a rigorosas assepsias. Diante disto, Semmelweis levantou a hipótese de que poderiam estar carregando “partículas cadavéricas” para as parturientes e ocasionando a febre puerperal.  As parteiras, que trabalhavam no segundo Setor, não participavam dessas autópsias. 

Imaginou, também, que a “contaminação poderia ser evitada pela destruição química da matéria patogênica”.   Para testar a hipótese, introduziu a lavagem das mãos com solução de cal clorada (hipoclorito de cálcio) entre os trabalhos de autópsia e o exame das parturientes.  Os índices de morte após o parto por febre puerperal diminuíram consideravelmente no Primeiro Setor, em mais de 90%.

Todavia, Ignaz Semmelweis não comunicou de forma eficiente suas descobertas. Para alguns críticos, demorou muito a comunicá-las, o que ocorreu quatorze anos depois, em 1861, com o lançamento de um livro (A Etiologia, o Conceito e a Profilaxia da Febre Puerperal), escrito de forma acusatória, complexa e repetitiva. Seus achados científicos foram rejeitados na época, porque, em parte, equivaleriam a responsabilizar os próprios médicos pelas mortes das parturientes.

Ignaz Semmelweis deixou o hospital de Viena em 1848, porque seu contrato não foi renovado. Começou a trabalhar no Hospital São Roque de Budapeste,  onde novamente reduziu os índices de morte pós-parto, pela introdução da lavagem das mãos com cal clorada antes dos procedimentos médicos. 

Em 1865, por apresentar distúrbios no comportamento, foi levado a um manicômio, onde morreu duas semanas depois, com 47 anos de idade. Uma das versões para sua morte foi espancamento,  adotado como espécie de tratamento nos sanatórios.

Na epóca de Ignaz Semmelweis, ainda não haviam sido formuladas as teorias de moléstias infecciosas por germes e micróbios por Pasteur, Koch e Lister.  A orientação de Ignaz Semmelweis, de lavagem das mãos como prevenção da doença e das infecções,  rompia com os paradigmas científicos da época, mas só foi reconhecida anos mais tarde, após sua morte. A partir de 1897, as práticas de assepsia foram sendo instituídas nos hospitais.

Mais de um século depois de ter sido ridicularizado por querer melhorar a saúde com higiene,  já no ano de 1906, a Universidade onde lecionou em Budapeste foi rebatizada para Universidade  Semmelweis.

No Brasil,  o dia 15 de maio é considerado o Dia Nacional de Controle das Infecções Hospitalares. A data chama a atenção de autoridades sanitárias, diretores de instituições e trabalhadores de saúde sobre a importância do controle das infecções. Foi outra homenagem póstuma ao médico-obstetra Ignaz P. Semmelweis.

Referências:

A HISTÓRIA do médico que terminou no hospício por defender a importância de lavar as mãos. Portal  H – History. Disponível em:<https://br.historyplay.tv/noticias/historia-do-medico-que-terminou-no-hospicio-por-defender-importancia-de-lavar-maos>. Acesso em: 05 de maio de 2020.

LÓPEZ, Alberto. Ignaz Semmelweis, o médico que descobriu como evitar contágios apenas lavando as mãos. Portal El País,  20 de março de 2020. Disponível em:<https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-03-20/ignaz-semmelweis-o-medico-que-descobriu-como-evitar-contagios-apenas-lavando-as-maos.html>. Acesso em 5 maio 2020. 

MEDIDAS simples podem evitar infecção hospitalar. Blog da Saúde/Ministério da Saúde, 15 maio 2019. Disponivel em:<http://www.blog.saude.gov.br/index.php/geral/53351-medidas-simples-podem-evitar-infeccao-hospitalar>. Acesso em 5 maio 2020.

OLIVEIRA, Marcos Barbosa de; FERNANDEZ, Brena Paula Magno. Hempel, Semmelweis e a verdadeira tragédia da febre puerperal. Sci. stud.,  São Paulo ,  v. 5, n. 1, p. 49-79,  Mar.  2007 .  Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662007000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  05  maio  2020.  https://doi.org/10.1590/S1678-31662007000100004.

PARECE notícia falsa, mas lavar as mãos já foi uma recomendação médica controversa. Portal National Geographic, 10 mar 2020. Disponível em:< https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2020/03/saude-medicina-doenca-epidemia-coronavirus-lavar-maos-higiene> Acesso em: 5 maio 2020. 

Imagem: Reprodução do Blog da Saúde/Ministério da Saúde.

 

 

 

 

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