Cuidados com as misturas caseiras de produtos químicos

Por Marcel Mark da Silva Passos, Bacharel em Química.

Atualmente, há uma gritante necessidade de dispensar um tempo e cuidado no que se refere à assepsia, higienização e desinfecção para evitar a disseminação da COVID 19 e isso pode ser uma tentadora oportunidade de misturar produtos de limpeza domésticos.

Apesar disso, para proteger a saúde da sua família é necessário ter conhecimento dos produtos de limpeza.  Misturá-los pode ser arriscado devido à composição química dos mesmos.

O primeiro alerta é que todos eles contêm produtos químicos; logo, não devem ser misturadas devido às moléculas engarrafadas e como elas se comportam.


Deve-se ter cuidado principalmente com o alvejante, este é composto por produtos químicos altamente reativos. É graças a essa reatividade que ele é eficaz na morte das bactérias e vírus, mas altamente perigoso quando misturados a outros produtos químicos, podendo resultar em produtos químicos tóxicos.


A principal substância encontrada em um alvejante clorado é o hipoclorito de sódio (fórmula química- NaClO), conhecido também como água sanitária, que reage com uma multiplicidade de produtos químicos para produzir gases tóxicos.


Para informação citamos combinações de produtos de limpeza que não devem ser misturados e o motivo.

Água sanitária e álcool em gel
Em algum momento de sua vida, você já imaginou combinar esses dois produtos de limpeza? Ambos são usados para desinfetar superfícies e ambientes. Alertamos que o uso individual e SEPARADO de cada um é seguro.


O álcool vendido em farmácias ou lojas de conveniências geralmente varia de 70% a 99%, o que significa que o nível do álcool é muito concentrado. O problema acontece com a combinação, que resulta em clorofórmio (fórmula química- CHCl₃) e ácido clorídrico (fórmula química-  HCl), ambos tóxicos e perigosos.

O clorofórmio é famoso por ocasionar tonturas e desmaios, usado para deixar as pessoas inconscientes e suspeita-se que cause câncer. Uma dose alta desse produto pode levar até à morte! Já o ácido clorídrico causa alguns problemas no funcionamento dos rins, pulmões e fígado. Ainda irrita a pele e mucosas, como os olhos. Essa mistura é arriscada também por afetar o sistema nervoso, sensível aos componentes citados aqui.


Cabe ressaltar que o álcool nem é tão recomendado para limpar algumas superfícies, pois ele pode danificar o material.


Sobre a água sanitária, logo ela nos remete à limpeza de banheiros e, portanto devemos levar em consideração que em regra são cômodos pequenos, com menos circulação de ar, portanto intoxicar-se nesse ambiente é ainda mais fácil. Portanto, alerta-se: CUIDADO!

Amônia e água sanitária
Essa é uma combinação que ocorre acidentalmente na maioria das vezes, porque muitos produtos de limpeza contêm amônia. Misturar amônia e água sanitária resulta em gás cloro. A amônia reagirá com o cloro, criando cloraminas. A alta quantidade de cloraminas pode ser tóxica e perigosa, causando sintomas como dor no peito, tosse e lacrimejamento. Em grandes quantidades, essa combinação pode ser fatal.

Água sanitária e vinagre
O vinagre é um ácido e sua potencialidade tóxica não deve ser subestimada. Tem um pH (potencial hidrogeniônico) baixo, em regra com valores menores que 3. Quando misturado com água sanitária, produz-se um cloro gasoso.

Esse gás é usado pelas empresas públicas responsáveis pelo tratamento da água e por empresas que trabalham com a manutenção de grandes piscinas (como as de clubes e academias).

Recorda-se que esse gás foi usado como arma química na Primeira Guerra Mundial, ocasionando danos aos olhos, nariz e pulmões dos soldados com exposição prolongada, devido a inalação do cloro gasoso que se associa ao hidrogênio, “roubando” o lugar do oxigênio no processo da respiração. Os sintomas são: falta de ar, ardência na garganta e no tórax. Com a falta do oxigênio, as células ficam sem energia para conseguirem realizar as funções básicas. A queda de oxigênio aliada ao acúmulo de CO2 (dióxido de carbono) e a queda no pH geram depressão nas principais funções orgânicas, acarretando dificuldade de respiração e queda nos batimentos cardíacos.

Peróxido de hidrogênio e vinagre:
O vinagre é composto pelo ácido acético (fórmula química- CH₃COOH) e ao ser misturado ao peróxido de hidrogênio (fórmula química-H2O2) formará um produto químico chamado ácido peracético (fórmula química- C2H4O3). O ácido peracético é tóxico e corrosivo, podendo danificar ou quebrar a superfície à qual é aplicado.

Bicarbonato de sódio e vinagre 
Muitos de nós já vimos aquela experiência da “erupção do vulcão” em feiras de ciências em escolas. Isso ocorre por conta da combinação de bicarbonato de sódio e vinagre. Vale ressaltar que essa mistura não é inerentemente perigosa, e os subprodutos de acetato de sódio (fórmula química- C2H3NaO2), água e dióxido de carbono (fórmula química- CO2) não são tóxicos. No entanto, você deve evitar combinar esses produtos químicos em um recipiente. Caso esse recipiente seja fechado a presença do dióxido de carbono que é um gás, poderá causar uma pequena explosão quando este tentar escapar.

O que você deve fazer se tiver feito uma mistura perigosa
Primeiro é se proteger. Não misturar NENHUM produto químico em casa. As moléculas químicas possuem seus próprios comportamentos e dependem de quem elas encontram por perto, portanto é muito importante entender todas as moléculas envolvidas em seu produto de limpeza.


É recomendada a lavagem das superfícies alvejadas com água antes de passar outro produto químico de limpeza, pois nada fora a água, deve nunca ser misturado com alvejante (água sanitária). Arejar o local, abrindo algumas janelas ou portas também é uma boa maneira de se precaver.


Os produtos químicos tóxicos formados a partir de água sanitária são gases, por isso é necessário se trabalhar com excelente ventilação, onde o gás tóxico é trocado por ar fresco. Assim, também é importantíssimo o uso de luvas de proteção ao limpar para evitar queimaduras químicas ou irritações na pele.


Caso você note alguns sintomas físicos como falta de ar ou dor no peito, é aconselhável procurar atendimento médico. Além disso, saia da sala onde estão os vapores e busque o máximo de ar fresco possível. Ligue para o 192 do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ou vá por meios próprios para ambiente hospitalar.

 

Nota: O autor do texto é Bacharel em Química com atribuições tecnológicas e concluinte do Mestrado em Ciências Ambientais pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Itapetinga (UESB-IT), especialmente convidado pelo projeto Eco Kids e Eco Teens para a elaboração desta postagem.

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