No período de 27 de agosto a 04 de setembro de 2016, geocientistas estarão reunidos na África do Sul, na cidade de Cape Town, para discutir, entre outros temas, se ocorreu mudança da era geológica e fixar seus limites temporais. Os trabalhos ocorrerão durante o 35º Congresso Internacional de Geologia, no âmbito da Comissão Internacional de Estratigrafia (International Comission on Stratigraphy -ICS, na sigla em inglês) , a quem compete decidir sobre as divisões oficiais da história da Terra (LEITE, 2014, p. 1).
A questão foi mencionada na obra do biólogo Eugene F. Stoermer, no início dos anos 1980, e de Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2002, que batizou a nova era geológica de “Antropoceno”.
Segundo pesquisas científicas, o consumo de combustíveis fósseis, gerando emissões de dióxido de carbono (C02), as explosões de bombas atômicas, que espalharam “elementos radioativos na atmosfera e que depois se depositaram na superfície e assim foram incorporados aos sedimentos e ao registro geológico do planeta“, os efeitos da revolução agrícola, com o uso dos agrotóxicos e interferência nos ciclos de nitrogênio e fósforo, entre outros eventos impactantes produzidos pela Humanidade, ao deixarem sua marca na rocha, podem ser considerados, para alterar o período geológico.
Do Holoceno, período interglacial, extraordinariamente estável, iniciado há mais de 12 mil anos, após o fim da última Idade do Gelo, passaríamos ao Antropoceno, um novo período geológico, decorrente da ação humana, que alterou os sistemas naturais da Terra. “Seu traço central é que a humanidade tornou-se a principal força de mudança geológica do planeta” (ABRAMOVAY, 2013).
Além da aceitação do novo período geológico, os geocientistas também discutirão os marcos temporais da nova era, que poderão ser fixados na Revolução Industrial, por volta de 1800, ou no lançamento da primeira bomba atômica, no deserto do Novo México, em 16 de julho de 1945.
Que efeito terá essa nova nomenclatura? Como poderá ser abordada na escola? O certo é que “a multiplicação dos problemas ambientais tem imposto às diversas disciplinas científicas temas para os quais não estavam anteriormente preparadas e para cujo enfrentamento são obrigadas a reformular os parâmetros de ensino e pesquisa” (JACOBI, 2014, p.62-63). Isso demonstra o acerto da Política Nacional do Meio Ambiente no apontamento da educação ambiental como multi, inter e transdisciplinar (BRASIL, 1999).
ABRAMOVAY, Ricardo. O antropoceno e os limites da Terra. Valor Econômico, 05 mar. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/cultura/3031108/o-antropoceno-e-os-limites-da-terra#>. Acesso em 10 abr. 2016.
BAIMA, Cesar. A aurora do “Antropoceno”, a era dos humanos. Jornal O Globo, 16 jan. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/a-aurora-do-antropoceno-era-dos-humanos-15065680>. Acesso em 10 abr. 2016.
BRASIL, Lei n. 9.795, de 27 abril. 1999. Dispõe sobre educação ambiental institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 28 abr. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>Acesso em 10 abr. 2016.
JACOBI, Pedro Roberto. Mudanças climáticas e ensino superior: a combinação entre pesquisa e educação. Educar em Revista, Curitiba, edição especial, 3/2014, p. 57-72. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/nspe3/a05nspe3.pdf>. Acesso em 10 abr. 2016.
LEITE, Marcelo. Antropoceno, a escaldante Idade do Homem. Folha de São Paulo, 07 dez. 2014. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/12/1557775-antropoceno-a-escaldante-idade-do-homem.shtml>. Acesso em 10 abr. 2016.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA. Calendário de Eventos. Disponível em: <http://www.sbgeo.org.br/home/events>. Acesso em 10 abr. 2016.
Imagem: Obtida em http://www.labgis.uerj.br/noticias/nos-estamos-vivendo-no-antropoceno-story-maps. Acesso em 10 abr. 2016.