Você conhece ou já ouviu falar de “cidades afogadas”?

Cidades afogadas é a expressão utilizada por Ricardo Trevisan, arquiteto e urbanista, em sua tese premiada de Doutorado, para referir-se a povoações que foram inundadas, propositalmente, para ceder lugar a reservatórios de água (barragens). As cidades ficaram submersas e seus moradores foram reassentados em outras locações.

É interessante também a narrativa do autor sobre o envolvimento e participação dos moradores no planejamento das novas cidades, para onde serão transferidos após “o afogamento” de seu rincão.  Organizados e participativos, os moradores da cidade de Nova Ponte (Minas Gerais) exigiram que a igreja fosse reconstruída com os tijolos originais, (“tijolo por tijolo”, como diz Trevisan).  Igualmente, que a nova cidade tivesse as “mesmas disposições dos bairros antigos”.  Já no histórico de inundação de outras cidades, os moradores a serem transferidos aceitaram a construção das novas cidades, conforme planejamento feito pelo Poder Público ou grupos privados responsáveis.

No Estado da Bahia, muitas cidades foram afogadas e reconstruídas, segundo Trevisan. Em função da construção da barragem de Sobradinho, Pilão Arcado (1974), Casa Nova (1976), Sento Sé (1976) e Remanso (1976) foram submersas e reconstruídas em outros sítios. Outras cidades que foram reedificadas para alojar os moradores de “cidades afogadas” foram Nova Iorque (Maranhão), Guadalupe (Piauí), Nova Petrolândia (Pernambuco) e Nova Jaguaribara (Ceará).

Para Trevisan, tais cidades surgiram para ocupar o espaço das homônimas, que foram alagadas. Todavia, leva tempo para que passem a “readquirir uma identidade presente apenas na memória dos moradores e relacionada a um espaço, agora inabitável”.

 

Referência:

TREVISAN, Ricardo. Cidades Novas [online] Brasília: Editora UnB, 2020. Pesquisa, inovação & ousadia séries. ISBN: 978-65-5846-158-6. https://doi.org/10.7476/978655841586. 

Imagem da Capa: Casa Nova:  Seca expõe ruínas de cidades inundadas para a construção da barragem de Sobradinho, no fim da década de 1970. Foto de Marcello Casal Jr/Agência Brasil.

Saiba mais:

NÍVEL da represa de Nova Ponte revela cidade que existia antes da inundação. G1 Triângulo Mineiro,  31 out. 2014. Disponível em:<https://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2014/10/nivel-da-represa-de-nova-ponte-revela-cidade-que-existia-antes-da-inundacao.html>. Acesso em: 10 fev. 2023.

NOGUEIRA, Edwirges. Aparição de ruínas revela memórias de moradores de cidades inundadas na Bahia. Agência Brasil, 28 dez. 2015. Disponível em:<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-12/aparicao-de-ruinas-revela-memorias-de-moradores-de-cidades-inundadas-na-bahia>. Acesso em: 10 fev. 2023.

Ricardo Trevisan teve sua tese, “Cidades Novas”, orientada por Sylvia Ficher, premiada pela Capes, em 2010, na categoria de Arquitetura e Urbanismo.  TESES premiadas em 2010, Portal Capes, 17 set. 2020. Disponível em:<https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/premios/premio-capes-de-tese/teses-premiadas/teses-premiadas-em-2010>. Acesso em 10 fev. 2023.

 

 

 

 

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