“Gestão de Recursos Hídricos em Tempos de Crise”, de Ricardo Motta Pinto Coelho e Karl Havens, é um livro técnico, com muitos conceitos, informações, gráficos e outras imagens. É dividido em doze capítulos, que permitem o aprofundamento da matéria. Contém informações atualizadas até 2014/2016, como ranking de países com maior facilidade de acesso ao ensino universitário, estudo de caso da seca em São Paulo, no ano de 2014, e situação crítica do esgotamento sanitário em Belo Horizonte.
O que torna o livro ainda mais interessante é a abordagem internacional, trazendo assuntos que remetem a novas leituras. Isto porque apresenta questões ambientais ocorridas em outros países, nem sempre conhecidas pelo leitor. Pela forma com que o tema foi explicado, desperta curiosidade de saber mais sobre ele, de ver imagens, assistir a vídeos explicativos ou ler reportagens complementares. Por exemplo, quando refere a ação judicial aforada pelo Estado da Flórida contra o Estado da Geórgia, para garantir a qualidade da água nos estuários, de modo a permitir a produção de ostras. O Estado da Geórgia captava águas da bacia e permitia a entrada de salinidade nos canais, que prosseguiam até a Flórida. Nesse Estado, os parasitas, bactérias e outros elementos trazidos pela água salgada afetavam o cultivo de ostras. A Flórida acionou a Geórgia para conter a salinidade, diminuindo o uso da água doce na bacia.
Outro tema sobre o qual o livro desperta o interesse é o “Rio Artificial feito pelo Homem”. Narra a canalização de águas subterrâneas pela Líbia, no governo de Gaddafi, que permitiu acesso a água pelas maiores cidades do litoral, incluindo a capital Trípole. Foi classificada pelo governante como a oitiva maravilha do mundo e mudava a feição do país, que passava a produzir seu próprio alimento, sem tanta dependência externa. Todavia, a obra foi alvo de destruição pela OTAN, em conflito armado com a Líbia.
Os conceitos são detalhados, mas com linguagem compreensível. Cada capítulo explica a subtemática com termos próprios da área abordada. Para ilustrar, pode-se mencionar o capítulo sobre águas subterrâneas, que diferencia e explica o que sejam águas confinadas e não confinadas, a pressão em cada uma delas. Lança ideias, também, sobre tecnologias necessárias para o futuro, como repositor de águas subterrâneas, a partir do aproveitamento da precipitação pluviométrica que escoaria superficialmente.
Nos itens mais polêmicos, como os que trazem conflitos internacionais ou nacionais, como a origem ou motivação da divisão do IBAMA, por licenciamentos ambientais na Amazônia, o autor não se posiciona expressamente. Contudo, é justamente esse subentendido, escrito de uma forma tão carismática e captativa da atenção do leitor, que permite e incentiva a busca de mais informações, para verificar os dois lados (ou mais) da questão retratada e tomar partido (ou não) por um deles, sempre com argumentos referenciáveis.
Por fim, deve-se destacar a parte infográfica do livro, pela sua qualidade e que pode ser aproveitada para inspirar apresentações a serem feitas por professores, palestrantes, etc. eliminando, com eficiência e completude, a necessidade de textos longos nos slides.
Referência: PINTO-COELHO, Ricardo Motta; HAVENS, Karl. Gestão de Recursos Hídricos em Tempos de Crise. Porto Alegre: Artmed Editora, 2016. 233 p.