Para a preparação da 1ª edição do jornal Eco Kids de Anagé, lançado no último mês de outubro, a Escola Municipal Benito Gama preparou uma “roda de conversa” com Joaquim Bruno Marinho e Edinaldo Andrade, moradores antigos do município, para que os alunos pudessem fazer perguntas sobre o rio Gavião e a Barragem de Anagé.
Os professores da Escola aplicaram o método denominado por Joaquim Justino Moura dos Santos, Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), como “história do lugar”. Segundo ele, o método serve “como instrumento de recuperação da memória e das identidades locais, bem como de aproximação entre escola e comunidade, gerando nos alunos maior interesse pelo estudo da realidade”.
Trechos das entrevistas estão na edição do Eco Kids, como registro dos dados passados por fonte oral. Os entrevistados relembraram a construção de barragem de Anagé e fizeram um comparativo do modo de vida dos moradores do município, antes e depois de sua construção. Como refere o historiador Joaquim Santos (2002), o método “história do lugar” permite que os alunos incluam “a si próprios, a seus familiares e demais pessoas da comunidade como partes vivas e ativas da história”.
Acompanhe alguns trechos da fala do morador Joaquim Marinho, de 71 anos:
“Antes da construção da Barragem, era área de sequeiro, só tinha água quando chovia. Quando secava, abria cacimba na areia para juntar água e colocava panelinhas de barro para os animais como cavalo, vaca e jegue não pisotear as cacimbas. Só plantava quando chovia (…) Hoje é fartura, tudo é bonito; hoje tem plantio, tudo florido por causa da água.
Hoje estamos ricos sem ter dinheiro nenhum, porque ‘água é vida’.”
O depoimento do morador Edinaldo Andrade, de 51 anos, também trouxe comparativos quanto às diferentes formas de lazer e de expressão cultural típicas do lugar (SANTOS, 2002). Disse o entrevistado:
No passado, o rio tinha aquelas bancadas de areia branca, onde as crianças brincavam de baleado, futebol e as pessoas abriam cacimbas para pegar água para beber e tomar banho. Hoje não existe mais aquela areia de antes.
Temos a Barragem que é muito importante para o abastecimento da população, porém depois da represa o rio mudou. Não existe mais o areão para brincar de bola, pois o rio foi tomado pela vegetação.
Os métodos “História do Lugar” e “história oral” foram aplicados de forma interdisciplinar com Linguagem, Geografia e Educação Ambiental, complementados por aula de campo na própria Barragem de Anagé e no rio Gavião. A atividade foi desenvolvida com os alunos do 2º ano do ensino Fundamental I.
O jornal Eco Kids e Eco Teens é um projeto de educação ambiental, coordenado pelo Ministério Público da Bahia, em parceria com os municípios. Anagé aderiu ao projeto neste ano de 2016, com publicação de uma edição de Eco Kids, por alunos de até doze anos de idade, e outra de Eco Teens, preparado por adolescentes.
Imagens: Lançamento da revista Eco Kids, Anagé. Foto: Antonio Coqueiro Neto/MPBA.
Referências:
ENTREVISTAS. Jornal Eco Kids, Anagé, outubro de 2016, 1ª edição, ano 1, p. 4.
MATOS, Júlia Silveira. SENNA, Adriana Kivanski de. História oral como fonte: problemas e métodos. Historiae. Riio Grande, 2 (1): 95-108, 2011. Disponível em: https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/2395/1286. Acesso em 01 nov. 2016.
SANTOS, J. J. M. dos.: ‘História do lugar: um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental’. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 9(1):105-24, jan.-abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702002000100006. Acesso em 01 nov. 2016.
Imagem da capa: Barragem de Anagé. Blog da Resenha Geral, Vitória da Conquista, 05 mar. 2014. Disponível em: http://www.blogdaresenhageral.com.br/mmm/. Acesso em 01 nov. 2016.