Falam tanto dessas águas,
que davam tom nas cachoeiras.
Águas que banhavam
Vidas e esperanças inteiras,
Águas de bilhões de anos
Que fluíam de nossas torneiras.
Águas de fontes e águas de grutas
Ressoavam nos pingos dos dias de lutas,
Os dias em que as índoles astutas
Roubaram nosso direito de viver,
Homens de insidiosas condutas
Das empresas que nos fizeram sofrer.
O barco que tem o chão como cama
Pertenceu a um pescador de fama,
Mas roubarem-lhe o rio,
Lapidaram um lamentoso drama;
Já morte, por uma vingança clama,
O seu sustento, jaz na lama.
Nesse rotina de eterno vai e vem,
A inquietude às vezes convém,
No fim da tarde, todos ouvem
As vozes que o vento traz do além:
“O Estado se calou e olhou,
O Estado não nos ajudou”.
A sede existe,
A sede persiste,
A sede insiste;
Encara-nos com fúria
E meu pai, fraco e triste,
Quer nos tirar essa lamúria.
Quero alguém para culpar,
Alguém para mostrar
O inferno que a vida se tornou
Com a força que resta, não basta gritar.
A felicidade se esvai como ar
Pois o Fio de Ariadne se arrebentou.
A tal da Justiça bradava aquele Princípio,
Cheia de pompa, cheia de ação
Dizia aplicar a devida prevenção,
Dizia proteger o nosso município
Um dia, era um cristalino ribeirão,
No outro, somente lama no chão.
E são apenas mágoas a mais,
Pouca água para pessoas demais,
Turvas, cansadas de sofrer;
Sofrimentos e problemas visuais
A angústia, não adianta esquecer,
Pois o demônio da barragem nos traz.
Cordel literário desenvolvido pelos discentes Hugo Ferraz, Ismael Almeida, Renata de Aguiar Dias e Samuel Martins, com o objetivo de atender à atividade avaliativa da Disciplina Direito Ambiental e Ecologia, do Curso de Direito da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), ministrada pelo Professor Cláudio Carvalho, visando, através da literatura de cordel, propor uma reflexão a cerca dos problemas ambientais interligados à ação do homem no seu cotidiano.
A Imagem da capa não integra o cordel. Foi escolhida para ilustração por e para este site.