A autora Lucie Sauvé, no artigo “Uma Cartografia das Correntes em Educação Ambiental” , aponta a existência de quinze correntes, divididas em dois grandes grupos, antigas e recentes. No primeiro grupo estão as correntes naturalista, conservacionista/recursista, resolutiva, sistêmica, científica, humanista e moral/ética, apontadas como de longa tradição. Serão vistas a seguir, em breve síntese.
A corrente naturalista caracteriza-se pelo entendimento da necessidade de contato com a natureza, pois dessa experiência ou imersão adviria a aprendizagem, a compreensão dos problemas ecológicos. Também conhecida por suas proposições de educação ao ar livre (outdoor education) ou voltada para o meio natural (nature education), tem base em autores como Steve Van Matre (1990) , Michael Cohen (1990) e Darlene Clover e colaboradores (2000).
A corrente conservacionista ou recursista preocupa-se com a conservação dos recursos naturais, tanto em quantidade, como em qualidade. Para Sauvé, os programas de Redução, da Reutilização e da Reciclagem (3 R), e de gestão de recursos, como gestão da água, do lixo ou da energia, estão integrados nessa corrente, estimulando tanto atitudes individuais como projetos coletivos de reflexão sobre o consumo. A terminologia recursista refere-se ao entendimento de que os bens ambientais são recursos, muitos deles escassos.
A corrente resolutiva centra-se na solução de problemas ambientais, seja por modificação de comportamentos, seja por projetos coletivos, situação que a aproxima da corrente conservacionista. Propõe a atuação mediante identificação do problema, busca e avaliação das soluções encontradas. A autora aponta que se destacaram nessa corrente Harold R. Hungerford e colaboradores da Southern Illinois University (1992).
Os adeptos da corrente sistêmica procuram uma visão de conjunto, analisando os componentes que integram um sistema ambiental, as interações entre esses componentes e as relações de causa entre o evento e a situação observada.
A corrente científica adota método hipotético-dedutivo ou experimental. Elabora hipóteses e busca sua comprovação. O meio ambiente é o objeto do conhecimento e um tema atrativo que estimula o interesse pelas ciências humanas e biofísicas, trabalhadas de forma interdisciplinar e transversal.
Já a corrente humanista ultrapassa a compreensão do meio ambiente pelo seus elementos biofísicos, para enfatizar a dimensão humana, em seus aspectos culturais, históricos, estéticos, entre outros. Parte do estudo da paisagem, já que sofre modelações pelo homem. Para a autora, a paisagem ” fala ao mesmo tempo da evolução dos sistemas naturais que a compõem e das populações humanas que estabeleceram nela suas trajetórias”.
Por fim, a última corrente antiga, na classificação de Sauvé, é a moral/ética, que enfatiza o desenvolvimento de valores ambientais, tanto para saber do outro, como de si próprio (“o estabelecimento de relação com seu próprio sistema de referência ética”), como protagonistas de situações. As escolhas podem refletir valores antropocêntricos, biocêntricos ou sociocêntricos, dentre outros. A autora menciona Louis Iozzi (1987), como modelo pedagógico relacionado a esta corrente.
Saiba mais: SAUVÉ, Lucie. Uma Cartografia das Correntes em Educação Ambiental. In: SATO, Michele, CARVALHO, Isabel (Orgs). 2003. A pesquisa em educação ambiental: cartografias
de uma identidade narrativa em formação. Disponível em:<http://web.unifoa.edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/arquivos/sauve-l.pdf>. Acesso em 21 mar. 2016.
Imagem: CAVALCANTI NETO, Ana Lucia Gomes; AMARAL, Edenia Maria Ribeiro do. Análise de concepções e visões de professores de ciências sobre educação ambiental. Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 6, n. 2 – pp. 119-136, 2011 Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/pea/article/viewFile/55928/59314>. Acesso em 22 mar. 2016.