Dorothy e o Aquecido Mundo de Ozônio

Quase todos conhecem o clássico da literatura, já levado ao cinema, “O Mágico de Oz”., escrito por L. Frank Baum. Conta a história de Dorothy Gale, uma órfã que vivia com os tios numa fazenda do Kansas, nos Estados Unidos. Um dia, um ciclone arranca a casa do chão, levando Dorothy e seu cachorro, Totó, pelos ares até chegar à Terra de Oz. Lá, a menina encontra o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Juntos vão em busca do Mágico de Oz, com pedidos especiais. O de Dorothy, é voltar para casa, enquanto o Espantalho quer um cérebro para pensar como os homens; o Homem de Lata, um coração para amar como os homens, e o Leão Covarde quer coragem para ser o Rei dos Animais.

Com essa inspiração, surgiu uma ideia: -E se Dorothy não tivesse sido levada por um ciclone? E se o fenômeno que a levou para a distante Terra de Oz fosse um desastre ambiental já vivenciado no Kansas?

Pois bem. Surgiu a pequena história “Dorothy e o Aquecido Mundo de Ozônio. Espero que gostem.

Once upon a time…Era uma vez, uma garotinha chamada Dorothy Gale, que vivia com os tios numa fazenda do Kansas, nos Estados Unidos. O capim nativo do local havia sido removido, ficando o solo desnudo, em parte pela criação de búfalos, outra parte por substituição por cultivos agrícolas, como trigo, na forma de extensas monoculturas. E em consequência dessa supressão da vegetação, o Kansas passou a viver um fenômeno denominado pelos cientistas como “Dust Bowl”. Consistia em tempestadas de areia que surgiam e permaneciam sobre as casas, plantações, deixando o ar nada agradável de respirar,  e as pessoas, com muita dificuldade para viver e conviver em meio às nuvens negras de poeira.

Certo dia, quando Dorothy brincava com seu cachorro Totó dentro da casa, sobreveio uma dessas tempestades de areia (Dust Bowl). Foi tão forte, tão forte, que arrancou a casa de Dorothy do solo e a envolveu, como um ciclone, levando-a para um reino distante (mas não “tão, tão distante” como o de Shrek), chamado Mundo Aquecido de Ozônio.

Esse mundo era semelhante a uma estufa, pois contava com uma proteção, feito telhado transparente ou vidro. Do lado de dentro, havia cidades com temperaturas frias, outras com temperaturas amenas. Outras, enfrentavam o calor de um verão. Porém, a temperatura era suportável e permitia a vida em todas suas formas. O responsável por aquele cenário era o Mágico de Ozônio, que cuidava para que sua estufa não se partisse ou fosse danificada. Do contrário, todos os habitantes do Mundo iriam padecer com as mudanças climáticas, especialmente o aumento de temperatura em determinadas regiões.

Mesmo com “aterrissagem forçada”, com casa e tudo, parecendo que “tinha apertado os cintos e o piloto, sumido”, Dorothy e Totó sairam ilesos, apenas um pouco tontos. Perceberam que estavam numa cidade desconhecida e perguntaram aos moradores como voltar para casa. Diante da resposta de que deviam procurar pelo Mágico de Ozônio, puseram-se a caminho, para solicitar auxílio.

Nessa jornada, fizeram amizade com o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Juntos foram em busca do Mágico de Ozônio, com pedidos especiais. O Espantalho queria pedir um cérebro, para poder melhorar a agricultura e pecuária. Percebia que estava cada vez mais difícil o cultivo sem utilização de agrotóxicos e queria torná-la mais orgânica. Mas como aumentar a produtividade em larga escala e combater pragas, sem produtos químicos? Queria também discutir com o Mágico sobre a questão da água. O Espantalho já estava todo desidratado, de tanto sol que enfrentava. A água, de que tanto precisava, ia toda para a plantação e criação de animais para abate. Era preciso garantir seus usos múltiplos. O Espantalho também queria o cérebro para pensar como os homens e poder entender porque procediam a aberturas de matas, suprimiam a vegetação do cerrado e da caatinga e até do capim nativo, no Kansas, sem um plano de recomposição de área, para garantir ar com menos poeira, mais sombreamento e temperaturas confortáveis.

O Homem de Lata, por sua vez, representava as indústrias. Vinha da terra do alumínio e sabia da importância da produção industrial para o desenvolvimento dos países. Mas o novo amigo de Dorothy queria um coração para amar como os homens e, desse modo, poder perceber que a produção industrial deve ter uma finalidade, além de lucro e mais lucro, para logo ser consumida e, o que é pior, descartada, em busca do novo. O Homem de Lata queria um coração, porque bem que tentava, mas não conseguia gostar de sua prima, a Obsolescência Programada. Como ela tinha tanto carisma para fazer com que as pessoas descartassem tão rápido produtos feitos com matéria-prima que a natureza levara anos para formar e constituir?

O desejo do Leão Covarde era um pouco diferente. Queria coragem para ser o Rei dos Animais, mas essa lhe faltava. Muitos de seus súditos estavam desaparecendo. Ouvira falar da aproximação de uma sexta extinção em massa. O Rei Leão não queria ser extinto como os dinossauros, tampouco como o Tigre-do-Cáspio, seu parente que morou em países como o Afeganistão e a Turquia, mas desaparecera  por volta de 1950.

Os viajantes e Dorothy, finalmente, encontraram o Mágico de Ozônio. Queriam uma solução mágica, rápida, eficaz e duradoura para todos esses problemas. O Mágico, entretanto, disse que não podia atendê-los. Precisava pegar seu balão e ir consertar um buraco na camada de Ozônio. Contudo, indicou a Terra da Grama Esmeralda, onde havia uma Fada que podia não ser totalmente eficiente, mas pelo menos, ajudaria na terra de Dorothy.

Com essa dica, lá se foram os amigos para a Terra da Grama Esmeralda. Nela, habitava a Fada Boa do Oeste, que deu sementes de grama e um tapete enrolado, também de grama, para Dorothy. Deu-lhe uma missão. “Dorothy, vou atender a seu desejo de voltar para casa. Todavia, assim que chegar, você deve procurar por alguém que tenha o cérebro que vou conceder ao Espantalho, a sensibilidade com que agora doto o Homem de Lata e a coragem que o Rei Leão vai adquirir, com minha magia. Explique a origem do Dust Bowl e mostre esse tapete de grama, como solução.”

E assim foi feito. Em um piscar de olhos, Dorothy e Totó voltaram para o Kansas, trazendo, além da casa, um tapete de grama esmeralda. Dorothy sabia que sentiria falta de seus amigos do Mundo de Ozônio, mas os desejos deles tinham sido atendidos. Então, era o momento de buscar ajuda para o Kansas. Dorothy e Totó descobriram que o tapete de grama esmeralda era mágico e com ele foram atrás do Presidente Franklyn Delano Roosevelt.

No início, o Presidente ficou um pouco relutante. Afinal, a história da menina, com relato sobre um representante da agricultura precisando de cérebro, de um representante industrial, precisando de sensibilidade e de um representante do reino animal, precisando de proteção e coragem, com formas de Espantalho, Homem de Lata e Leão Covarde, era muito fantasiosa. Mas ouviu atentamente sobre o perigo de desertificação do Kansas e sobre os poderes de recuperação da grama.

A incerteza não é motivo para não adotar medidas de precaução”, pensou o Presidente. Tem-se o conhecimento suficiente para saber que a revegetação melhora o cenário da desertificação. É hora de prevenir, portanto, seu agravamento. Vou confiar nessa menina e determinar a introdução de práticas de conservação”.

A partir de então, o Presidente decidiu lançar uma ofensiva para tentar conter o problema. Como viria a ser divulgado, anos depois, “o governo passou a adquirir terras e a criar áreas de conservação, replantando a pastagem nativa. Cerca de 1,6 milhão de hectares foram recuperados dessa forma. O governo também combateu aqueles que deixavam a terra a descoberto e o uso de tratores modernos, que reviravam demasiado o solo e dificultavam a penetração da água. Impôs, enfim, várias práticas de conservação, como rotações de culturas. Os produtores, que relutavam em admitir seu papel na degradação ambiental, acabaram se unindo para promover um uso mais racional das suas propriedades”.

E o que aconteceu depois? Comenta-se que “o esforço deu resultado. Em 1939 o governo anunciou que a área altamente erodida, que chegara a 80% das Grandes Planícies, tinha sido reduzida a um quinto do tamanho original. As tempestades de poeira começaram a diminuir, a longa seca terminou e a produtividade voltou – ao menos por um tempo”.

E como ficou o Mundo de Ozônio? E Dorothy e seus amigos? Bem, comenta-se que o Mágico de Ozônio só consegue voltar para sua casa por curtos períodos. O buraco na camada de Ozônio não tem conserto. Não irá reduzir, mas pode estagnar. Exige atenção e esforço frequentes, fazendo com que o Mágico viaje muito, em seu balão, para fiscalizar o local do rompimento.

Os amigos de Dorothy, por sua vez, voltaram para suas ocupações habituais. Só que agora, com sensibilidade, cérebro e coragem, conseguem se reunir com os moradores do Mundo do Ozônio e discutir medidas para auxiliar ao Mágico para que consiga evitar, ao menos, que a cobertura se rompa ainda mais.

E Dorothy e Totó? Não sei ao certo, mas ouvi dizer que ela tem sido vista por aí, preocupada com a volta do Dust Bowl, com o aquecimento global e com outras questões ambientais. Faz discursos na ONU e ainda gosta de usar seu cabelo amarrado em trancinhas. Você a viu?

E saiu por uma porta, entrou pela outra, quem quiser que conte outra”.

Referências:

DUST Bowl, o desastre ambiental esquecido. Portal Página 22, 20 nov. 2012. Disponível em: <https://pagina22.com.br/2012/11/20/dust-bowl-o-desastre-ambiental-esquecido/>. Acesso em: 05 ago. 2021.

FONTANA, Josué. TIGRE-PERSA: Tigre-Do-Cáspio. Portal Biólogo, 17 maio 2021. Disponível em:<https://biologo.com.br/bio/tigre-persa/>. Acesso em: 05 ago. 2021.

O MÁGICO de Oz. Portal Grupo Autêntica. Catálogo. Disponível em:<https://grupoautentica.com.br/autentica/livros/o-magico-de-oz-texto-integral-classicos-autentica/1452>. Acesso em: 05 ago. 2021.

Imagem da capa: Pôster de divulgação do filme O Mágico de Oz – Domínio Público

3 comentários sobre “Dorothy e o Aquecido Mundo de Ozônio

  1. MUITO LEGAL!!! Já quero adaptações para Alice no País das Maravilhas, Nárnia, A Bússola de Ouro e etc!
    O interessante é que durante minha leitura silenciosa, a voz na minha cabeça era a de Dra. Karina Cherubini. Com entonação épica e tudo!
    Peguei todas as referências do conto e também torço pelo surgimento de mais garotinhas que peitam líderes irresponsáveis!
    Parabéns!!

    • Rafael, nem sabe como seu comentário é importante. É um estímulo e um desafio, ainda mais com suas propostas de novas adaptações. Quem sabe se não vêm por aí? O certo que sua leitura ao texto foi um grande prêmio. Muito obrigada por ler e participar do site!

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